Ao menos desde de o Egito antigo, sempre houveram diversas religiões presentes na sociedade. Cada uma delas apresentava diferentes características sobre como as pessoas deveriam lidar com suas a vidas e tratar as relações sociais. Entre todas estas tivemos, há cerca de dois mil anos atrás, o surgimento do cristianismo. Esta religião se pauta nos ensinamentos de Jesus Cristo, tendo como foco o amor. Devido a esta nova forma de conceber a realidade, o cristianismo mostrou-se resistente ao tempo e coloca-se indubitavelmente entre as mais importantes religiões da história da humanidade.
Ao apresentar esta tão radical inovação, o amor, o cristianismo conquistou o mundo. Dentre todas as outras religiões que existiam naquele momento, e poderiam ter tomado a centralidade da sociedade ocidental, em retrospecto, foi o cristianismo quem resistiu as intempéries do tempo. Desde quando a ideia começou a tomar corpo, o próprio imperador romano percebeu a força desta ideia e optou por reprimi-la, em uma tentativa de inviabilizar sua disseminação. Durante muitos anos foi considerado criminoso a proliferação das ideias de Jesus dentro do império.
Apesar disto, a população romana sofria muito naquele momento e uma religião pautada no amor, na fraternidade e na ajuda ao próximo tinha um apelo imensurável às pessoas. Lentamente as ideias cristãs foram se disseminando no império até que, eventualmente, conseguiram, após quase 400 anos, conquistar o império. Em 313 através do Édito de Milão, sob o lema de “um deus no céu, um imperador na terra”, Constantino proclamou a lei que permitia a liberdade para cultuar qualquer deus. Entretanto, foi somente no ano 380, por ordem do imperador Teodósio I, no já decadente império, que Roma finalmente adotou o cristianismo como sua religião oficial.
Com a oficial adoção do cristianismo por parte do Estado houve uma forte guinada na concepção religiosa. O cristianismo, através do catolicismo, burocratizou-se a transformou-se em um importante método para a sustentação de poder dos reis. Para ilustrar a burocratização da igreja católica como um mecanismo de manutenção do poder temos a introdução do papado no ano de 483. O papado é o cargo exercido pelo papa como representante máximo da igreja católica.
Neste momento, já adentramos na alta idade média, onde começa a ocorrer, na maior parte da Europa, a introdução dos feudos. Os feudos se caracterizam pela produção servil onde os reis são representantes deus na terra e, como tanto, são responsáveis por proteger seus servos. Já a função dos servos é, literalmente, servir. É neste contexto que o rei, através da igreja, como representante de deus e, consequentemente, superior aos homens, se consolida.
Assim, a igreja consagrou-se como a mais forte e omnipotente instituição politica durante todo o período medieval, inclusive constituindo um próprio exercito em alguns momentos. Este exército participou de diversas campanhas de guerras sendo, a mais conhecida destas, as cruzadas. Aqui fica nos claro que a ideia inicial do cristianismo já estava completamente deturpada (leia-se corrompida) pela ambição dos homens. Como podem os ideais cristãos, que pregam o amor, serem usados para a guerra em busca de território? Só a ambição humana, que distorce o a concepção inicial em busca da promoção de objetivos privados, é que explica tamanha divergência. Este é apenas um de diversos exemplos onde a força do cristianismo foi usada para fins destrutivos na história da idade média. É sempre relevante lembrar que hoje a idade medieval é também conhecida como a idade das trevas.
Depois de tamanha blasfêmia contra a própria religião, finalmente houve um novo movimento que foi capaz de iniciar o rompimento com o domínio da destorcida ideologia católica que manteve o poder ocidental absoluto por, ao menos, 1200 anos. Este movimento veio a ser conhecido como o iluminismo.
O iluminismo veio como a negação máxima do catolicismo e, para tanto, trouxe os conceitos da ciência moderna. A ciência seria uma oposição entre o dogmatismo religioso colocando-se como a busca por verdades absolutas. Entretanto, apesar desta oposição apresentar-se como um posicionamento ideológico e politico naquele momento, a ciência e a igreja não devem ser compreendidas como opostas. Elas podem muito bem ser complementares pois, enquanto uma representa os valores que devem reger a sociedade (catolicismo, amor) o outro representa a forma como os humanos devem buscar o acúmulo de conhecimento técnico (ciência, método científico). Uma polarização entre estes termos foi, sem dúvidas, historicamente necessária, mas já não é mais tão essencial pois, cada uma destas ideias governa diferentes áreas da vida humana.
Aqui ressalto a força que a ideologia pautada no amor apresenta. Durante todos estes mais de 2 mil anos, mesmo com tamanha distorção, as pessoas ainda estavam dispostas a morrer pela ideologia do amor (de forma cega e muitas vezes errônea por conta das distorções humanas). Mesmo com todos estes desvios, a ideologia perdurou, e hoje, mais do que nunca, é necessário um retorno a sua concepção original. Me parece que o novo papa busca fazer exatamente isto através da aceitação de todos perante “sua” religião independente de cor, sexo, orientação sexual e etc, em detrimento da burocratização extrema reinante no catolicismo por mais de um milênio. Assim, temos que um retorno aos conceitos originais do cristianismo, representados pelo amor, fraternidade e ajuda ao próximo são mais essenciais que nunca.
Trago agora, em meio a esta pandemia, um breve poema.
No espirito natalino,
Compartilhamos nosso amor
Que durante o ano
Foi ofuscado pela dor.
A dor da angustia,
Que pelo isolamento se alastrou.
Enquanto o vírus,
O tecido social, desfiou.
Virus que sufoca,
Cerra as portas,
Veda as frestas
Corrói as esperanças
E gera ânsia.
Ânsia por contato,
Ânsia por amor,
Ânsia pela vida,
Que se desumanizou.
Devemos humanizar,
Sem pesar as consequências,
Pois este é o espirito,
De se doar.
Dar, presentear.
Ceder, conceder.
Legar, Outorgar.
Todas formas,
De se doar.
Para que assim, o amor possa,
se proliferar.
Devemos então, celebrar,
Pois dezembro chegou, e neste ano, não vivemos,
Sobrevivemos.
Um feliz natal a todos!
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